quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

CARNAVAL - Dioníso domesticado

"...o espírito apolíneo conseguiu, por meio da sua ilusão, uma vitória completa sobre o elementos dionisíaco primordial...."
F. Nietzsche - A Origem da Tragédia, 1886


O Carnaval é a festa profana mais antiga que se tem registro, provavelmente, com o sentido atual de folgança coletiva e inversão das posições sociais, já existe há mais de três mil anos. As suas raízes mais remotas encontram-se na Grécia Antiga, no culto a Dionísio, o deus da vindima, que mais tarde foi celebrado em Roma como Baco, espalhando-se para os países de cultura neolatina.
As Origens Primordiais da Festança
Dionísio, mais conhecido entre nós como Baco, era um deus bastardo para os pagãos. Perambulara por muito tempo pela Ásia Menor até que, conta a lenda, pelas mãos do sacerdote Melampo, introduziu-se nas terras gregas. Tornou-se um sucesso. Conforme as plantações de parreiras se espalhavam pelas ilhas da Grécia e pela região da Arcádia, mais gente o celebrava. Em todas as festas no campo ele se fazia cada vez mais presente. Por essa altura, já entronado como deus das vindimas, representavam-no como uma figura humana, só que de chifres, barbas e pés de bode, com um olhar invariavelmente embriagado.
As Bacantes
Consta que as primeiras seguidoras do deus Dionísio, há uns 3 ou 3,5 mil anos atrás, foram mulheres que viram nos dias que lhe eram dedicados um momento para escaparem da vigilância dos maridos, dos pais e dos irmãos, para poderem cair na folia "em meio a danças furiosas e gritos de júbilo", como disse Apolodoro, testemunha duma daquelas festas. Nos dias permitidos, elas, chamadas de coribantes, saíam aos bandos, com o rosto coberto de pó e com vestes transformadas ou rasgadas, cantando e gritando pelas montanhas gregas. Os homens, transfigurados em silenos e sátiros, não demoraram em aderir às procissões de mulheres e ao "frenesi dionisíaco". A festança que se estendia por três dias, encerrava-se com uma bebedeira coletiva em meio a um vale-tudo pansexualista.
Um mundo invertido
Nos primórdios do culto a Dionísio, as autoridades (as cortes, os sacerdotes e os ricos) não gostaram nada daqueles festejos malucos. Entre outras razões porque eram as vítimas favoritas das sátiras. Os festejos bacantes, como é sabido, além de serem um teatralização coletiva da inversão de tudo, serviam como um acerto de contas do povo com os seus governantes. Ainda que metafórico e psicológico. Neles, o miserável vestia-se de rei, o ricaço de pobretão, o libertino aparece como guia religioso, e a rameira local posava como a mais pura donzela, machos reconhecidos vestem-se como fêmeas, e assim por diante. Dionísio brincalhão, irreverente e debochado, estimulava que virassem o mundo de ponta-cabeça.
A repressão fracassou. Foi então que no século VI a.C., Pisístrato, o tirano de Atenas, oficiou-lhe homenagens. Não só isso. Construiu-lhe um templo na Acrópole: o teatro Dionísio, que está lá até hoje. Organizou em seguida concursos de peças cômicas ou dramáticas para celebrá-lo no palco, iniciando assim em Atenas a política do amparo às artes cênicas pelo Estado.
Apolo e Dionísio
Erwin Rohde, um colega de Nietzsche, interpretou a transformação de Dionísio de um irreverente deus das folganças num ente oficioso, à interferência de um outro deus: Apolo, o deus Sol. Sendo este uma divindade do Estado, ele não podia permitir que aquela subversão dos costumes ficasse solta pelos campos a provocar loucuras, incitando os pobres à desordem e ao deboche. Apolo então atraiu Dionísio para dentro da cidade com ofertas mil, e, como sócio maior, domou-o. Em Roma, com as saturnais, as incríveis e desregradas festas populares que se davam em dezembro, deu-se praticamente a mesma história. Em Veneza ou em Nova Orleãs, em Salvador da Bahia ou no Rio de Janeiro, o deus bastardo da bebida e do atrevimento, tornou-se amansado pela política envolvente do deus do Sol, Apolo.
O Carnaval Brasileiro
O carnaval brasileiro, trazido pelos portugueses no século 17 com o nome de entrudo, é um herdeiro direto das bacantes e das saturnais greco-romanas. E, pode-se dizer, ao longo desses três séculos em que tornou-se na maior festa popular do Brasil, percorreu a mesma trajetória de acomodação dos seus antecessores. A plebe colonizada imediatamente aderiu ao entrudo como um imperdível momento de inverter, ainda que simbolicamente, o mundo desgraçado em que vivia. Naqueles dias tão aguardados, quando a troça assumia ares de majestade, nenhum fidalgo ou pomposo qualquer, nada que fosse solene, oficial ou sublime, escapava da mordacidade dos festeiros do rei Momo (deus pagão menor que presidia os festejos carnavalescos em Roma).
Domesticando Dionísio
No Brasil, Apolo - a lógica do interesse do Estado - igualmente interviu. A partir de 1935, com o crescente centralismo estatal determinado pela Revolução de 1930, começou-se a sufocar a salutar espontaneidade popular submetendo os desfiles populares a regulamentos, horários e trajetos a serem cumpridos à risca. É a ordem da desordem! Seduziram Dionísio - em troca da obediência às regras de boa conduta - com promessas de honrá-lo em lugares especiais, próprios (sambódromos, passarelas de samba, concursos, prêmios, etc.), acertando em troca o fim da zombara e do ridículo em que antes os seus seguidores, os celebrantes de Baco, submetiam os poderosos naqueles três dias de tumulto e beberagem. Desde então as escolas de samba do Rio de Janeiro, e as outras que as imitaram, enfiaram-se numa camisa-de-força.
Contendo a irreverência
Caíram na armadilha de Apolo. Para exibirem-se ao grande público precisavam de dinheiro, que, como se sabe, só se encontra nos bolsos dos figurões, públicos ou privados. Impedidos moralmente de ridicularizarem ou glosarem os patrocinadores que os mantêm e amparam, os sambas-enredo - expressão musical do Dionísio acomodado de hoje -, esvaziados da irreverência e da gostosa safadice, não dizem mais nada. Comumente a cantoria é só elogio e reverência, quando não propaganda aberta de quem financiou o desfile. O luxo das fantasias e a parafernália dos alegóricos cerceia qualquer gesto mais solto, espontâneo ou original, liberando-se apenas a sensualidade, exposta em nichos especiais, não mais acolhendo o elemento de contestação divertida. O resultado disto é a mesmice. Quem assiste a um só desfile de escola de samba - ainda que reconhecendo estar frente a um dos maiores espetáculos populares da Terra - viu a todos, os que passaram e os que ainda virão. Domesticaram Dionísio!
Voltaire Schilling

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O centro do mangue


Há doze anos faleceu Chico Science. Injetando modernidade na tradição, sua geração criou o manguebeat em Pernambuco e inovou a música brasileira.


No fevereiro próximo, completam-se doze anos desde a trágica morte do cantor e compositor Francisco de Assis França, mais conhecido como Chico Science. Um acidente de carro entre Recife e Olinda foi responsável por destituir a banda Nação Zumbi de seu líder. Chico foi um dos responsáveis pela criação do manguebeat, um movimento cultural que tirou a capital pernambucana do marasmo artístico no início dos anos 90.
Uma das regras básicas do manguebeat é modernizar a tradição musical local. Daí a metáfora de enfiar a antena parabólica (elemento tecnológico de contato com o exterior) na lama do mangue para, antropofagicamente, deixar-se atingir pelas boas vibrações e “envenenar” os gêneros regionais com as novidades do rock, da soul music, do rap e da música eletrônica.
Apesar de tais idéias terem sido levantadas por DJs, músicos e agitadores culturais, foi Chico Science um dos principais norteadores da nova música de Recife. Até então, poucos haviam percebido as possíveis relações entre a força dos tambores do maracatu e os riffs distorcidos da guitarra no rock. As proximidades entre as cadências rítmicas do canto na embolada e no rap permaneciam inexploradas. Nenhum outro havia colocado a rítmica ondulante da ciranda na música pop ou o groove da soul music na síncope do maracatu, nem houve compositor que tivesse conseguido desenhar a cidade de Recife com suas cenas de violência e desigualdade e seus personagens, de forma tão simples e pungente.
Chico foi o criador de frases como “A estrovenga girou / passou perto do meu pescoço / corcoviei, corcoviei / não sou besta seu moço / (…) / vou juntar a minha nação / na terra do maracatu / Dona Ginga, Zumbi, Veludinho / segura o baque do Mestre Salu” (O Cidadão do Mundo, CD Afrociberdelia). Neste trecho, ficam claras a utilização de expressões populares (estrovenga é um tipo de foice e corcovear significa curvar o corpo) e a citação de personagens de maracatus conhecidos em Recife.
Science era ouvinte atento dos sons da rica tradição pernambucana e das novidades do mundo da cultura pop, das tecnologias digitais, da Internet e da teoria do caos. Tais conhecimentos aparecem em praticamente todas as suas composições, tanto nas letras como também nas estruturas rítmicas, instrumentais e nas formas de canto. Observador do contexto e dos personagens recifenses, lia com a mesma atenção livros de Josué de Castro (médico e geógrafo que estudara os catadores de caranguejo de Recife) e publicações de histórias em quadrinhos, em especial as de Jacques de Loustal, quadrinhista francês cujo sobrenome foi usado para nomear a banda que deu origem à Nação Zumbi (Loustal).
Um dos motores da proposta do manguebeat era a crítica às proposições do movimento armorial, criado nos anos 1970, em Pernambuco, pelo escritor e dramaturgo Ariano Suassuna. Os armoriais defendiam um retorno às raízes da música do sertão, como uma busca do som primordial brasileiro, longe das misturas e do comercialismo trazido pela tropicália no final da década de 1960. Para tanto, juntaram os sons sertanejos às experiências de músicos eruditos para a criação, por exemplo, da Orquestra Armorial e do Quinteto Armorial. Tal mescla é nítida também nos trabalhos de músicos como Antônio José Madureira.Por mais que essas experiências musicais tivessem gerado ótimas composições, a presença de Suassuna em órgãos oficiais ligados à cultura fazia com que as atenções se direcionassem a esse tipo de música. Os jovens que propunham outras manifestações não encontravam espaço na cidade. Daí as ações críticas contra a posição aparentemente conservadora das políticas culturais inspiradas nos armoriais.Por isso também, o manguebeat é muito mais do que Chico Science. Envolveu ações na imprensa, promoção de festas e apresentações com produção cooperativa e criação de festivais de música pop com a presença de artistas tradicionais (Selma do Coco, Mestre Salu, Lia de Itamaracá, entre outros). Ao mesmo tempo, se muitos jovens músicos ajudaram a criar a cena mangue, Science era o centro de convergência, a pele sensível ao toque da informação, o cérebro criativo das misturas. Mais de uma década após, o manguebeat ainda é visível em Pernambuco. Diversos shows de novos artistas da região em espaços criados pelos poderes públicos locais mantêm a alta temperatura da criatividade musical. Quatro grupos são bons exemplos desta continuidade: Treminhão, um trio instrumental que mistura ritmos regionais com o jazz; Mombojó, que usa recursos da música eletrônica; Cordel do Fogo Encantado, grupo do interior do estado mais ligado às tradições; e Siba e a Fuloresta, ex-integrante da banda Mestre Ambrósio. Há, claro, ainda os artistas da cena inicial, como Mundo Livre S.A., DJ Dolores e a própria Nação Zumbi.


Herom Vargas
Retirado de http://www.revistadehistoria.com.br/

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

OS OCEANOS ESTÃO EM PERIGO

Cerca de 80% dos estoques pesqueiros no Brasil estão ameaçados de extinção pela pesca predatória. Precisamos aumentar as áreas marinhas protegidas, que correspondem a apenas 0,4% da nossa costa. Temos que mobilizar toda a sociedade e exigir do governo políticas públicas efetivas. A conservação dos oceanos está diretamente relacionada com o nosso futuro e deve ser feita agora. Não temos tempo a perder.
O Greenpeace exige mais atenção com nossos mares. Os oceanos precisam de nós, e nós precisamos dos oceanos
ENTRE NESSA ONDA. ACESSE:

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Lincoln, Obama e o racismo nos EUA


Desde 1865, quando a Guerra Civil e a escravidão no país tiveram fim pelas mãos de Abraham Lincoln, o mundo espera ouvir outra boa notícia americana, a abolição do racismo


A eleição de Barack Obama trará uma grande mudança na sociedade e na política dos Estados Unidos? Vários comentaristas de peso nos Estados Unidos e fora dele têm respondido entusiasticamente: “Sim”.Thomas Friedman argumenta, em sua coluna no New York Times, que a eleição de Obama sinaliza o fim real da Guerra Civil americana (1861 a 1865). A guerra sepultou a escravidão no país e reservou um lugar nobre na história para o presidente Abraham Lincoln, mas, de fato, não resolveu a situação racial.Com o presidente Obama, de acordo com Friedman, não só os problemas raciais serão resolvidos, mas haverá uma reafirmação do “sonho americano”, de que todo cidadão – mesmo pobre, negro e filho de imigrante – pode vir a se tornar presidente.Mais do que equivocados, esses argumentos são, de certo modo, ingênuos. Ignoram duas verdades Lincoln, Obama e o racismo nos EUA marcantes, com o propósito de mascarar os graves problemas que o país enfrenta: 1) como Obama chegou à presidência; e 2) a verdadeira situação racial no país.


Escrito por Sean Purdy, professor de história dos Estados Unidos na USP.


Texto extraído de www2.uol.com.br/historiaviva

LOS HERMANOS + STROKES = LITTLE JOY



Rodrigo Amarante lança 4 músicas com sua nova banda, LITTLE JOY.

Se Marcelo Camelo sente-se pouco à vontade sem os Los Hermanos, Amarante sabe exatamente o que quer. Com sua nova banda, Little Joy, ele comprova ser um dos melhores músicos brasileiros dos últimos 20 anos.
Little Joy também é formada por Fabrizio Moretti (baterista do Strokes) e Binki Shapiro (namorada de Fabrizio).
Eles lançaram 3 músicas no Myspace: “No One’s Better Sake”, “Brand New Start” e “With Strangers”, além de outra, chamada “Keep Me In Mind”, no Youtube. O disco inteiro foi lançado em novembro último, pela gravadora inglesa Rough Trade.
“No One’s Better Sake” já pode ser considerada uma das melhores músicas do ano. Tem pegada reggae e é como se “Automatic Stop”(Strokes) encontrasse a Tropicália.
As outras 3 seguem uma linha pop sessentista e, se por um lado são mais usuais, já se mostram mais aceitas pelo orkut afora. E, de fato, são mais divertidas e despretensiosas do que qualquer coisa que Camelo já tenha feito.
O disco só tem uma música em português, “Evaporar”, que Amarante tinha gravado com Lanny Gordin e que foi refeita pelo Little Joy.

Little Joy (Slap/Som Livre), de Little Joy. Produtor: Noah Georgeson. Preço médio: 30 reais.

Adaptado de www.mtv.uol.com.br

Travessia Marins-Itaguaré, uma aventura para mais de dois dias.


A travessia Marins-Itaguaré não é lá uma “missão impossível” para quem já está acostumado a esse tipo de aventura, comumente realizada em 3 ou até em 4 dias. Mas no período de 2 dias, com um grupo pouco preparado, torna-se uma atividade relativamente árdua. E foi exatamente nessa que embarquei. Na companhia de 5 amigos, Gui, Thaís, Pinta, Calú e Milene, partimos da capital paulista rumo ao município de Piquete - SP, onde encontra-se o caminho que leva ao Pico dos Marins, início de nossa aventura. O término ocorre nas imediações do Itaguaré, área limítrofe com Minas Gerais. Ambos os picos estão acima dos 2000 m de altitude. Nesse tipo de aventura é preciso um bom planejamento: água, roupas de frio, proteção solar, alimentos, barracas, previsões do tempo... Estas últimas são determinantes para a ida ou não. Feito isso, notamos que à noite seríamos brindados com um eclipse lunar. O céu permaneceu maravilhosamente aberto, “azulim”. Após 7 horas de caminhada até a base do Marins, verificamos que seria preciso apertar o passo. O atraso nos impôs uma marcha acelerada até as proximidades da imensa Pedra Redonda, metade do percurso e local possível de se armar acampamento frente aos desníveis das montanhas. Na Pedra [quase] Redonda, sessões fotográficas. Com a chegada da noite, cansaço, frio e contemplação competiram duramente perante o eclipse. O sono, inexorável. Com o raiar do sol nos pusemos a “escalaminhar”. Entre subidas e descidas chegamos ao Itaguaré. Lá, há um ponto de captação de água, líquido altamente precioso à nossa condição de extenuados montanhistas. A partir do Itaguaré, no interminável descer, penetramos a mata atlântica correndo contra o tempo, pois o dia chegava ao fim. Exaustos, chegamos - em meio à escuridão - ao final da trilha. Ufa! Valeu a lição. Em dois dias não mais! (risos)


Texto de Marcelo Botosso -

Colaborador.