
Os meios digitais transformaram o relacionamento entre livro e o usuário. Descubra os novos hábitos de leitura e escrita dos jovens brasileiros dentro e fora da internet.
A internet vem substituindo a estante como local onde as pessoas baixam seus textos, mas, apesar de irreversível, a tendência não irá pôr fim ao papel tão cedo. Segundo especialistas no assunto, os novos hábitos incentivam uma maior proximidade com as letras e coexistem naturalmente com os antigos na cabeça da maior parte dos leitores brasileiros: jovens que não chegaram à maioridade.Os livros eletrônicos (ebooks), blogs e afins mexem não só com o mercado editorial, mas principalmente com as práticas educacionais. “Mesmo as classes menos favorecidas estão próximas do computador, através de lan-houses, casas de amigos e etc. Na internet, podemos ter formas coletivas de aprender, onde o aluno não é apenas um receptor. O professor se torna um integrador, um problematizador. Não se trata de levar o aluno ao laboratório, mas de levar os computadores para sala”, explica a pedagoga Maria Teresa de Assunção, autora do livro “Leitura e escrita de adolescentes na internet e na escola”.A grande quantidade de jovens leitores transparece na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, feita pelo Instituto Pró-Livro em 2008. Segundo os dados, as três obras mais importantes da vida dos brasileiros são: a Bíblia, O Sítio do Picapau Amarelo (uma referência à obra de Monteiro Lobato, uma vez que o título inexiste como um único livro) e Chapeuzinho Vermelho. Se a lista soa ingênua, o mesmo não se pode dizer das novas práticas de escrita entre as crianças, como a criação de fanfics, abreviação para o termo “fan fiction” ou “ficção feita por fãs”. Trata-se de recriação de histórias conhecidas, com enredos ou personagens que não constam na referência inicial, geralmente histórias de desenhos animados.“Se acompanhada de um educador, os fanfics são uma grande ferramenta. Existe um grande interesse pela escrita e há um forte empreendedorismo dos jovens neste sentido. Vários autores renomados também já fizeram algo semelhante aos fanfics. Fernando Sabino e Lygia Fagundes Telles escreveram romances baseados em Dom Casmurro. Há diversas continuações para os livros de Conan Doyle”, afirma Cláudio Soares, editor do PontoLit, revista eletrônica sobre o impacto da tecnologia na leitura e escrita.Os dados Instituto Pró-Livro indicam ainda que os usuários de internet são os que dedicam mais tempo à leitura em geral. Em média, passam semanalmente cerca de 2 horas e meia se dedicando a esta atividade. "Os jovens estão lendo e escrevendo mais e por conta própria, fora da escola. No caso da internet, dizem que as pessoas escrevem errado, mas é um código totalmente adequado àquele canal. Ele trás marcas da oralidade, tem por objetivo a velocidade", afirma Maria Teresa.Segundo Galeno Amorim, coordenador da pesquisa Retratos da Leitura, a Câmara Brasileira do Livro lidera atualmente um grande esforço para aproximar os brasileiros das letras. Trata-se da recriação do Instituto Nacional do Livro, órgão governamental criado em 1937 por Getúlio Vargas e extinto em 1990 por Fernando Collor. O novo Instituto teria a função de servir como indutor de políticas públicas relacionadas à leitura, permitindo que a Biblioteca Nacional se foque na preservação e ampliação de seu patrimônio.“Os governos Sarney e FHC fizeram algumas ações nesta área, mas menos do que se esperava de dois presidentes ligados umbilicalmente aos livros. Ambos são autores e o primeiro é membro da Academia Brasileira de Letras. Curiosamente, foi no governo Lula, criticado por não ser um leitor contumaz, que tem havido os maiores avanços nesta área. Mas isso não significa que as coisas estejam boas: ainda precisa de muito para o Brasil virar um país de leitores”, analisa Galeno. Palavras em bitsApesar de parecer recente, a aproximação entre literatura e computadores nasceu muito antes da internet. No final da década de 60, o cientista norte-americano Harold Wooster projetou aquilo que pode ser o primórdio dos livros eletrônicos. Seria um dispositivo de plástico capaz de ler informações em micro-fichas. Algo bastante simples, se comparado aos equipamentos atuais do tipo.
“Os ebooks tendem a se caracterizar mais como um serviço, não como produto. É como se fosse um local de encontro entre os vários leitores. Criam-se redes sociais a partir do livro, que não será apenas texto, mas terá também outras mídias. Será preciso encontrar novos modelos para cobrar por isto. O próprio conceito de copyright deve ser repensado”, diz Cláudio Soares.
Tido como um característica da literatura eletrônica, o hiper-texto também é muito anterior à rede mundial de computadores. As notas e os índices dos livros comuns podem ser considerados como tais. Com as novas tecnologias, a diferença é a possibilidade de saltar rapidamente de uma parte a outra. "O livro trás uma leitura linear. Na internet, você faz um percurso que surge a partir de cada leitura, da intervenção naquilo que está sendo lido. De certa maneira, a leitura hiper-textual é mais autoral”, explica Maria Teresa.
Texto retirado de www.revistadehistoria.com.br
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